Atividades feitas pelo GPT, respostas prontas, padrões claros da IA mantidos nas respostas… Esse é um cenário comum para muitos professores que, ao corrigirem os trabalhos dos alunos e, conhecendo a linguagem própria de cada um e suas formas de escrever, percebem que a respostas não são originais.
Não serei hipócrita ao dizer que não devemos usar a IA. Pelo contrário, ela já se tornou uma ferramenta de trabalho, e as novas demandas muitas vezes já consideram o tempo do profissional utilizando essas tecnologias. Porém, isso é pauta para outro artigo.
No cenário escolar, independentemente da área, os professores comentam a mesma coisa: os alunos estão usando o GPT para tudo, e, quando precisam fazer algo sem ajuda, não sabem como. Inclusive, um colega da área de T.I. não passa mais trabalhos para casa, pois, quando passa, os alunos montam a programação com a IA e, na hora de fazer em sala, não conseguem executar. Já nas áreas sociais, conversando com um professor de Direito, ele relatou o quanto os alunos estão dependentes do chat, sem aprender ou sequer ler a resposta gerada, não estão aprendendo nem o suficiente para formular uma pergunta corretamente.
CHAT É PROMPT
Quer uma boa resposta da IA? Escreva um bom prompt. Detalhe muito bem o que você quer, como deseja, para qual finalidade, com o máximo de informações possível. Aí sim, terá uma boa resposta. Entretanto, para fazer uma pergunta bem formulada, é preciso ter conhecimento prévio. O problema é que muitos nem ao menos leem o que o chat gera; copiam e colam sem corrigir erros que a IA pode apresentar ou ao menos “disfarçar” os vícios de linguagem comuns dessas ferramentas. Contudo, para corrigir esses vícios, é necessário ler.
Assim como a geração anterior aprendia a ler mais cedo, pois essa era a única forma de acessar certos conteúdos, as seguintes passaram a ler mais tarde, pois já contavam com celulares que liam as respostas buscadas no Google. A geração mais nova nem sequer quer ler, pois sua IA faz tudo. E o problema está aí: quando a IA faz tudo, você vira refém dela, pois não tem o conhecimento necessário para fazer boas perguntas.
COM A IA, BUSCADORES VIRAM MECANISMOS DE RESPOSTAS
No mês passado, li uma notícia que me fez perceber algo que está diante de nós, mas que muitas vezes não notamos no dia a dia. O que antes buscávamos diretamente no Google, agora perguntamos à IA, e ela nos entrega a resposta pronta.
Um relatório da SimilarWeb apontou que os mecanismos de busca tradicionais tiveram um declínio de 6,4% entre março de 2022 e março de 2025. O chefe de serviços da Apple, Eddy Cue, afirmou que as buscas no navegador padrão da Apple (Safari) caíram pela primeira vez na história. Enquanto isso, o Perplexity AI, um dos principais mecanismos de busca, ou melhor, de respostas, teve um crescimento de 205% entre março de 2024 e março de 2025, alcançando 160 milhões de visitas mensais.
Isso apenas reforça o quanto estamos buscando respostas prontas, o que impacta diretamente na qualidade dos trabalhos entregues pelos estudantes.
USE COMO UM SUPORTE, NÃO COMO BENGALA
Para finalizar, algo que sempre reforço com meus alunos é: usem a IA para agilizar, corrijam a ortografia e a gramática. Entretanto, estudem. Saibam o conteúdo para que possam criar boas perguntas e identificar quando algum detalhe da resposta não faz sentido. Utilizem a ferramenta para melhorar o que foi feito, mas não para fazer por vocês.
A educação evolui constantemente. Como educadores, precisamos evoluir também, compreender as novas tecnologias e saber como utilizá-las para aprimorar nossas aulas. Um exemplo são os slides com apoio de IA, como o Gamma.app, que economizam tempo em algo que antes levava horas. Mas, até para montar o prompt de um slide, é preciso compreender não só o conteúdo, mas também a estrutura desejada.
Ou seja, tecnologias morrem e surgem, mas, se não garantirmos nosso conhecimento teórico e prático, deixaremos de ser autônomos para nos tornarmos reféns.
E você, já analisou o quanto está dependente das IAs?
Na Próxima Aula
Professor, redator e videomaker. Trabalha na área de pesquisa e educação desde 2014, é autor do livro "Lex Derner: O Arqueólogo do Futuro" e da newsletter sobre cultura e educação Depois do Cafezinho. Quando pode, gosta de gravar dicas literárias.